quarta-feira, 28 de março de 2012

Estudando a música - alguns esclarecimentos

Há muito tempo percebo determinadas características que se repetem nas músicas de 'sucesso'. Depois de estudar mais o fenômeno, aponto as questões fundamentais:
1) Vogais: a maioria das músicas atuais possui algo no refrão como "e-e-e-e-e-e-e",  "lê lê lê",  sendo o mais conhecido deles o animadíssimo "tchereretchê-tchê" (deve ser uma homenagem à 'tchê music' do RS). O "e" é a vogal da moda, porém, as vogais variam e sempre marcam presença nas composições. No axé music, é uma característica marcante, e por que não dizer, sine qua non para a sua existência.
2) O impossível: Primeiro, a lua iluminou o sol na bonita canção de Paula Fernandes. Em outra circunstância, a pessoa metamorfoseia-se em raio de saudade, meteoro da paixão (bom, acho que o Luan Santana veio antes, ainda tenho que conferir os dados). Mas não podemos esquecer que, muito antes disso, Fagner já recitava: "tenho um coração, bem melhor que não tivera". Enfim, se o coração não existisse, meu caro Fagner, 98% das canções ruins também não existiriam. Parece que ele é essencial não só para o corpo humano, assumindo na música a condição "Highlander".
3) A função do coração: Marisa Monte mostra toda a sua incapacidade como poeta: "meu coração é um músculo involuntário e ele pulsa por você"... científico demais. O negócio é dilacerar, despedaçar, estraçalhar, pisotear (sambando, claro) e tudo o que há de mais devastador. Depois de dilacerado, maltratado, espezinhado, afogado e incendiado, ele ressurge das cinzas e, não bastasse seu retorno, ainda volta com personalidade, como neste caso: "deixa de ser trouxa coração", mas não para por aí: ainda tem a versão objeto no caso de "a saudade é um prego, coração é um martelo". É... o fígado se regenera, mas o coração, ah, esse é mutante!
4) Mutações: Observemos o caso de "você é minha luz, estrada meu caminho, sem você não sei andar sozinho (neste caso, a pessoa é muleta), sou tão dependente de você. Chama que alimenta o fogo da paixão", (no caso a pessoa transmuta-se em matéria em combustão). Mais tarde, na mesma música, sem mais, lê-se a frase: "vem meu céu, meu pão de mel, meu bem querer". Primeiro, o ser em questão é o lugar onde se encontram os astros, o infinito. Imediatamente, este ente transforma-se em alimento (dos melhores, diga-se de passagem): PÃO DE MEL.  Depois dizem que os sertanejos não tem complexidade alguma. Por favor...

Beiju da Gorda


quarta-feira, 21 de março de 2012

No ônibus

As viagens de ônibus são sempre muito interessantes, porém, sempre possuem as mesmas sensações. Salvo raríssimas exceções, determinadas fases sempre se repetem. São elas:

1) O Medo - a fase do medo é sempre a primeira. É aquela que, quando estamos na fila, vemos um ser indesejado – invariavelmente comendo um Elma Chips - e tememos imensamente que este seja nosso companheiro de viagem pelas próximas horas. Quando não é isso, o vivente já vem com sabor cebolitos naturalmente. Esse é o pior, não adiantando nem oferecer pastilhas: sovacos não chupam bala halls.

2) A certeza – a fase que vai garantir o teu humor durante as próximas horas de existência: o seu companheiro já ocupa a poltrona ao lado. Caso ainda haja espaço para se movimentar e permissão para respirar tranquilamente, a viagem terá grandes chances de ser agradável. Daí tu entendes por que nunca acertou a loteria: tua sorte estava reservada para o ônibus, ou, para ganhar o sorteio da cesta de café da manhã na rifa da vizinhança.

3) O filme – Os filmes do ônibus ou são uma merda completa, ou são absolutamente sem graça (ou seja, uma merda completa). Existem algumas exceções que garantem que o filme não é totalmente desprezível, que são: a) um bom ator – ele muitas vezes dá um 'up' no roteiro; b) tem bichinhos bonitinhos e c) lindas paisagens. No máximo. Quando o filme for realmente bom ou tu dormiu e tá sonhando ou é delírio.

As próximas fases dependem da tua capacidade de dormir ou não. Caso consigas dormir és um abençoado. Do contrário, ainda existem:

4) Conversas – Conversar no ônibus nem sempre respeita aquela máxima de que “quando um não quer, dois não brigam”. Infelizmente, nem todas as pessoas compreendem a indiferença como um não. Muitas delas acha que é timidez da tua parte. E o pior: ninguém nunca supõe ter mau hálito.

5) A comida – Não sei por que, mas acho este assunto o mais interessante. Gordos sempre carregam comidas. Nem sempre a pessoa do lado carrega comida. Então, já temos um grande dilema quando portadores da comida: oferecer ou não oferecer. Não gosto de dividir a minha comida. Me inspiro numa grande amiga que tenho desde a infância que esperava o namorado ir embora para abrir o pote de sorvete – um a menos! No ônibus há sempre o constrangimento, pois tu não tens opção “esperar a visita ir embora”. Opto por jamais olhar para o lado enquanto como. Se a pessoa tentar falar contigo diga “uhum” de boca cheia, não a olhe e seja antipático. Sorrisos só depois. Isso salvará teu lanche!

Fim da viagem! Descanso? Ainda não...

6) Momento de buscar as malas - Hoje em dia os motoristas costumam ir tirando as malas e gritar o número da bagagem, portanto, ficar como mosca em volta da merda, além de não adiantar nada, só atrapalha o bom andamento da coisa. Não, a tua mala não vai aparecer antes por que tu estás ali. Até onde eu sei, mala não é cachorro. Por mais que tenha rodinhas, ainda não anda sozinha, pula e vem ao teu encontro. Sim, a realidade é triste.

Beju da Gorda!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Tipos insuportáveis

1) O educado. O educado é uma pessoa que não quer encrenca com ninguém e tenta sempre tratar a todos com a maior educação. E mesmo que algum ignorante venha a lhe incomodar, o educado sempre consegue dar um jeito de ser gentil. Ainda mantém a sua própria opinião, diferente do caso a seguir - o cara legal - , mas sempre ressalta que RESPEITA TODAS AS OPINIÕES, embora tenha a sua. O educado é um saco. A categoria mais próxima deste é o "cara legal".
2) O cara legal. Um dos tipos mais inoportunos. Não sabendo o que fazer para agradar, invariavelmente ele compartilha com afinco das tuas opiniões, seja ela qual for. Se teu time é vermelho e o do cara legal for azul, ele vai dizer que, neste caso TU TENS TODA A RAZÃO. Além de sempre concordar contigo, este espécime também jamais perderá a oportunidade de ficar calado e sempre terá um comentário 'muito massa', mas muito massa mesmo, para fazer sobre as tuas opiniões. Personalidade é o que não há. Delírio a dois é psicose pouca.
2.1) O cara legal II: o correto. Possui características dos anteriores, mas é mais legal ainda, pois tem opinião própria (sempre a mais senso comum) e também é sincero, o que o torna dos tipos mais sacais. Tudo está sempre bom, divino e maravilhoso, claro, porque as criancinhas na África sofrem e ele se sente abençoado por comer pão todos os dias - mesmo que tenha sido sovado pelo coisa ruim. Ele(a) está sempre bem, ainda que pense nos males do mundo. Certamente já realizou a sua boa ação do dia, sempre sabe os conselhos certos para te dar (os mais inúteis e clichês, claro) e é um cara sincero, até demais, pois não é correto mentir, nem que seja sobre futilidades. Ex: alguém fez uma plástica no nariz. O sincero-legal (diferente do super sincero, um tipo mais grosso) diz "ai mas eu achava bem charmoso aquele teu defeitinho", sempre no diminutivo, pois ele é legal, legal demais. Depois do cidadão ter pago muitos reais, ter quebrado a cara - literalmente - , o cara legal e sincero vem e diz isso. Também é desnecessário dizer que ele é politicamente correto, pois tudo que carrega o adjetivo 'correto' este cidadão se enquadra. É o campeão entre os malas. Perto dele está o super sincero.
3) O super sincero. Ele se acha o mais foda e se tu não compartilhas da mesma opinião, certamente é porque tu "és um hipócrita medíocre". O super sincero vai além da sinceridade do legal-sincero, ele simplesmente perde o amigo pra não perder a sinceridade, perde a dignidade, a piada e tudo mais. SEMPRE tem uma opinião (contrária, certamente) a todos os acontecimentos, mesmo que o acontecimento tenha sido tu teres matado uma barata. Está na categoria "poderia ter nascido mudo".
4) O cult. Este, impressionantemente, nunca sai de moda. Ele entende de toda história do cinema do Kasaquistão, Romênia e Sri Lanka - sim, tem cinema lá. Não sabe falar português, mas exaltá-lo de forma insuportável. Palavras como "elucubrações, esfuziante, revelador" (embora pareçam palavras comuns o cult as diz simplesmente pra informar que vai ao banheiro) são as mais utilizadas por este tipo. Palavras como "legal" ou "bom" não existem em seu dicionário pois não traduzem todo o êxtase do ser cult. Seus discursos geralmente duram horas em função de descrições totalmente dispensáveis como: "A fabulosa atriz Fulana, dos filmes tal e tal dos diretores excelentes da nova safra do cinema, fulano e cicrano, estava esplêndida no último longa do paquistanês Tal, numa interpretação super  intimista e intensa da personagem feita da adaptação da obra do fantástico Fulano... ad infinitum." Isso tudo para dizer que a atriz tal estava excelente no seu último filme.  Não preciso dizer que são dois pés no saco. Isso quando não está de muletas.
5) O rebelde do facebook. Geralmente posta todos os vídeos contra a corrupção no país, mas fica caladinho quando acontece algo dentro do seu trabalho, seja lá qual for o ambiente, mas lá está ele se rebelando contra a política do país, enquanto engole sapos todos os dias e dá abracinhos nos colegas com menos ética que ele. Super legal, se dá bem com todo mundo, não se incomoda em ignorar pessoas em uma posição hierárquica menor que a sua, mas ainda assim, não cria grandes conflitos, a não ser, óbvio, no facebook, contra aqueles que não tem contato direto. É um lindo!
6) O grosso. É grosso. E ponto. Assim mesmo. Não se sabe por que, mas ele canta com orgulho "me chamam de grosso, não tiro a razão" porque assim ele é. Não, nem ele sabe por que, porque isso NÃO TE INTERESSA. E ponto.

Beju da Gorda

domingo, 25 de dezembro de 2011

Ausência

Às vezes fico tão ausente quanto papai noel. Eu e grande parte das pessoas. Então vem o Natal, com sua árvore, seus presentes, suas dívidas no cartão de crédito e aquele sorriso. Falso, claro. Noites de Natal me cansam. É a obrigação de estar bonita, bem arrumada e feliz. Base, rímel e blush + vestidinho bonitinho + carinha feliz. Uma m... 
Hoje só o que eu recolhi de papéis de presentes, embalagens plásticas, caixas... foi algo absurdo. Daí eu penso, pra que tudo isso? É legal ganhar presentes, acho ótimo, todo mundo gosta, mas na noite de Natal é uma obrigação. As crianças esperam a noite de Natal pelos presentes. Que saco! Os presentes que eu mais gostei de dar foram assim, simplesmente por querer, sem data, sem obrigação. O que pode ser melhor do que um telefonema pra um amigo pra dizer que o ama? De simplesmente "chegar" e dar um abraço e ir embora, assim, sem mais. A vida seria tão mais interessante se fosse bem assim "sem mais". Muitas vezes ganhei presentes assim e, sem dúvida, foram os melhores. E todos eles se baseavam da gentileza de estranhos que hoje são grandes amigos e outros, que nem o nome mais sei. Mas hoje em dia, nada pode ser mais nobre e mais elegante do que a gentileza, o cuidado, tão ausentes atualmente... Qualquer coisa que demonstre que o ser humano ainda tem algo de grande é ainda o melhor presente de todos. Com o sem papel, com ou sem cartão, com ou sem data. Porque os dias especiais não estão marcados previamente no calendário, eles são inesperados, surpreendentes e insuperáveis. Em nenhum deles teve o papai noel.
Beju da Gorda

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tcherere-tchê-tchê

Olha, tem coisa que eu não entendo. As "coisas" classificam-se em: comuns, legais, inesperadas, extraordinárias, fantásticas, espantosas, dignas, válidas, bonitinhas-mas-ordinárias, outras apenas ordinárias... mas tem aquelas que são inexplicáveis:
1) Michel Teló.
2) Gustavo Lima... e você - tchere-re-tche-tche
Eu poderia voltar à Claudia Leite, vencedora do troféu Sem Sal -  2011 até a eternidade - , mas mestre Skylab mandou bem e eu jamais falaria melhor: "eu queria estar lá (rock in rio) pra cortar aquela corda (corda em que a Claudia leite estava suspensa)".  Skylab cada vez mais meu mestre.
Mas voltando ao primeiro item - Michel Teló. Por favor, ninguém se chama Michel Teló. Nenhum corretor gramatical aceita "Teló" que porra é "Teló"? É uma mistura de telha com Jiló? Não combina. Não remete a nada, é algo tão sem sentido que não possui razão de existir - assim como a música. E depois, se fosse José Teló, até que rolava uma interação, mas "Michel" e "Teló" são coisas quase contradizentes - pois se chegassem a ser contradizentes já era um início. Também não é o caso de serem contrastantes e resultar em algo esteticamente aceitável; tampouco se completam, como queijo e goiabada, arroz e feijão: não existe aceitação pra Michel Teló. Um nome como poucos que diz tudo sobre a música que ele canta. Tá, "música", nesse caso,  foi uma bondade imensa da minha parte, mas eu também tenho meus momentos de Madre Teresa. Fato. Mas enfim, ninguém na mesma vida poderá se chamar Michel Teló e manter a dignidade. Ok, Michel, perdoado nesta vida.
Gustavo Lima é só mais um, não merece perdão. Nem explicação. Não há nada relevante que justifique o esforço. Definitivamente.
Meu pequeno ódio começou quando hoje, a TV ligada e passou TRÊS vezes a propaganda dos novos sucessos: "delícia assim você me mata, ai se eu te pego" (TELÓ, Michel, 2011). seguido de "gustavo lima e você" (LIMA, Gustavo, 2011). Depois de eu ter pensado que "sou foda" era o ápice da falta de noção e livre expressão do ridículo, eis que surgem estes novos ícones. Chupa Luan Santana: tu já era!!!
Claudia Leite: eu não esqueci de ti!
Beju da Gorda em você
tcherere-tchê-tchê-tchê-tchê

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A diversidade

Hoje a diversidade toma conta do mundo: diferentes ritmos, diferentes crenças, cores, valores, sabores... antes que eu comece a rimar, acho tudo muito lindo - principalmente no que se refere aos sabores. Também hoje não basta ser moderno, tem que ser pós-moderno, pós-dramático e até pós-humano!! Enfim, eu, como uma boa gorda, tenho uma opinião super bem formada: tem o bom e o ruim, o chato e o não chato, o bom e o mau. Sim, existem classificações, debates e discussões, o problema todo é que o mundo está ficando chato (já escrevi isso), que Freud não entenderia nada se vivesse hoje (não que eu ache que um dia ele entendeu) e era tãããão mais fácil ir ao mercado e escolher entre chocolate, morango e baunilha do que chocolate, chocolate com avelãs, com passas, castanha de caju, caramelo, baunilha, floresta negra, laranja, maracujá, chocolate com menta, LIMÃO!!!!, pimenta, chocolate com cookies -, a coisa mais sem sentido até hoje inventada - morango com chocolate, frutas vermelhas, amora, framboesa, ai, é demais! Pior que isso, só quindim de chocolate. Os gordos pedem socorro!

domingo, 30 de outubro de 2011

Poeminha roubado

Poema perfeito escrito pelo Pomar em www.teatrorelampago.blogspot.com. Roubei e aqui vai:

"Tem gente que sofre de solidão, eu sei.
Quero dizer, mais imagino do que sei.
Porque quando passei
A ser sozinho (e quem não é?),
Logo descobri:
Eu sofro mesmo é de gentidão."

Lembrou-me Ionesco e "as pessoas que falam para nada dizer". O bombeiro. Lembrou-me Beckett e os seres "lá fora". Lembrei da solidão acompanhada - quando estamos sós na multidão infinita -, e quando estamos em companhia que nos completa e, se faz assim, um só. Solidão agradável. Sofrer de solidão assim até que é bom.

Beju da Gorda