sábado, 6 de outubro de 2012

Polícia para quem precisa!

Em Porto Alegre quem precisa de proteção policial é tatu de plástico. Quem merece suas cacetadas são os vândalos sem razão nenhuma que derrubaram um boneco inflável gigante. Se uma boneca inflável em tamanho normal faz a alegria de um homem, imagina um tatu de sete metros!! Compreensível a presença constante de um monte de policiais em volta. Proteção aos sete metros da mais pura felicidade que existe em você.
Os vândalos derrubaram o tatu sem razão. Vândalos destruíram um grande patrimônio cultural de Porto Alegre. Sem razão. Claro que a inutilização de um espaço público em que constantemente ocorriam manifestações culturais e políticas não é razão. Claro que a feira de economia solidária não faz falta nenhuma para quem nela consumia os produtos coloniais e para os seus produtores que ali expunham seus produtos e, portanto, não é razão. Tampouco existe razão alguma em ver o tatuzão como uma representação de toda a barbárie política acontecendo na cidade de Porto Alegre. E mesmo sendo, não há motivo claro para essa revolta. O povo não é feito pra isso, apenas para ser passivo e apático, é esse o seu papel. O papel do povo é chamar a todos de ignorantes, polícia e manifestantes, ou de analisar sobriamente a situação que de sóbria não tem nada. 
Não há sobriedade em uma polícia despreparada. Tão preparada que quando um amigo e eu fomos assaltados à mão armada tendo ele seu carro levado, não pudemos dar queixa sem ter o número da placa do veículo, que ele não lembrava pois o carro havia sido trocado no dia anterior. Mas, minha mãe e eu pudemos ser paradas por um carro dessa mesma brigada, sendo obrigadas a "sair do veículo com as mãos para cima" pois haviam furtado um carro idêntico ao que estávamos. Ao sair, me deparei com um policial armado. Mas... e a placa do carro? Por que nós fomos paradas por estarmos em um carro de mesma marca e cor ao roubado e meu amigo e eu não pudemos dar queixa por não lembrarmos exatamente o número da placa do veículo? Claro que isso não é nada. O carro do meu amigo não é um grande patrimônio cultural, e o fato de termos sido abordados por um sujeito armado também não é uma grande coisa. Afinal, não somos tatus e sequer somos de plástico. 
O problema não está apenas em Porto Alegre nem só no RS. O despreparo das polícias militares é algo assustador. Mas há exceções. Quando eu morava no interior do RS em uma casa localizada em um bairro razoável, por morar algum tempo só em uma casa sem segurança, ao desconfiar de algo eu chamava a polícia. E eles iam, prontamente, fazer uma ronda e retornavam a ligação para dizer que estava tudo bem. Ali, eu me sentia um pouco protegida pela polícia. O mesmo ocorreu quando entraram no pátio da casa da minha vizinha. Já quando eu morei no Morro da Penitenciária no Bairro Trindade em Florianópolis, ao ouvir um grito de socorro, liguei para a polícia e relatei o que ouvi. A resposta foi algo surreal: "se você ouvir de novo ligue outra vez e nós vemos o que fazer". O que é um pedido de socorro em um lugar onde nem os taxistas se arriscam ir antes das seis da manhã, não é mesmo? Claro que poderia ter sido eu a gritar socorro, poderia este grito ter sido o último de alguém, mas e daí? Não era eu! Assim como não fui eu a ser ferida pela polícia no dia quatro de outubro em Porto Alegre. Portanto, para mim, tanto faz, para mim é muito fácil ser sóbria e analisar a situação com polidez e palavras sensatas, afinal, sou prudente, não ajo por impulso ou necessidade. Quem tem necessidades? O povo da feira? Os artistas que perderam um espaço público? Os passantes que perderam um pouco de arte e produtos da feira? Não. O Tatu, ao qual é cedido o espaço público, aliás, a praça toda que poderia mudar de nome para não envergonhar Glênio Peres.
Sejamos sensatos, não derrubemos plástico.  Deixemos impunemente retirarem o pouco que ainda pertence ao povo. Enquanto tu olhas as coisas com prudência, tem alguém agindo e apanhando para que tu, amanhã talvez, voltes a ir na feira, possas ali apresentar teu espetáculo de rua, fazer tua intervenção, a divulgação do teu evento e alguma ideia, se algum dia tu vieres a ter alguma. Afinal, quem precisa de espaços públicos, não é mesmo?
Trocamos os papéis com os tatus: enquanto eles crescem e tomam as praças, nós, vamos pro buraco. É o povo cavando sua cova.

Beju da Gorda.

Um comentário:

  1. Muito bom texto. É a inversão do sentido daquela frase do "Samba do Arnesto": "nóis não semo Tatu."

    ResponderExcluir